Abraça o momento: a única realidade verdadeira
Já reparaste como passamos grande parte do nosso tempo a viver for a do momento presente? De manhã, enquanto bebes o teu café, a tua mente já está na reunião que terás mais tarde. Durante a reunião, preocupas-te com a lista de tarefas que precisas de completar à tarde. E à noite, quando finalmente deverias relaxar, ou estás a remoer algo que correu mal durante o dia ou a antecipar as preocupações de amanhã. É como se estivéssemos sempre a viver num local diferente daquele onde o nosso corpo realmente está. Esta divisão constante da atenção não é apenas cansativa. É a raiz de grande parte da nossa ansiedade, stress e insatisfação. A verdade simples, mas profunda, é que o único momento em que realmente vives é agora. O passado já se foi, o futuro ainda não chegou, e é apenas neste instante fugaz do presente que tens o poder de experimentar a vida em toda a sua riqueza, de fazer escolhas conscientes e de encontrar uma paz que, surpreendentemente, esteve sempre aqui, à espera que a notasses.
Esta ideia de viver no presente não é nova, atravessa culturas antigas e filosofias orientais há milénios, desde o conceito budista de "mindfulness" até à sabedoria estoica sobre aceitar o momento atual. Mas o que significa realmente estar presente na tua vida quotidiana, longe dos retiros espirituais e das almofadas de meditação? Imagina que estás a conversar com um amigo, consegues lembrar-te da última vez que estiveste totalmente ali, sem verificares o telemóvel, sem pensares no que vais dizer a seguir, apenas a ouvir com todos os teus sentidos despertos? Ou quando comeste algo delicioso, estiveste realmente a saborear cada garfada, a notar as texturas e os sabores, ou estavas distraído pela televisão ou perdido em pensamentos? É nestes pequenos momentos do dia-a-dia que a prática da presença começa. Não se trata de uma grande transformação espiritual, mas sim de um retorno gentil, vez após vez, à simplicidade do que está a acontecer agora mesmo. A boa notícia é que não precisas de mudar a tua vida ou de te tornares outra pessoa, precisas apenas de estar mais atento à vida que já estás a viver.
Os obstáculos à presença são muitos na nossa cultura moderna. Vivemos numa sociedade que valoriza a multitarefa, a produtividade constante e a conexão digital permanente. O teu telemóvel sozinho contém um universo de distrações, cada notificação puxando-te para for a do momento presente. Depois há a tendência humana de remoer o passado, aquela discussão que correu mal, as oportunidades perdidas, os erros que não podes desfazer. Ou então saltamos para o futuro, num ciclo interminável de planeamento, preocupação e antecipação. "Quando conseguir aquele emprego, serei feliz", "Quando as crianças crescerem, terei mais tempo", "Quando me reformar, poderei relaxar", e assim adiamos a vida para um momento que nunca chega, porque quando esse futuro se torna presente, já estamos a olhar para o próximo horizonte. Este adiamento crónico da vida real rouba-nos a única coisa que realmente temos: o momento presente. Como disse o filósofo Alan Watts: "Não se trata de fazer música para chegar ao final da peça; se assim fosse, os melhores músicos seriam aqueles que tocam mais depressa."
Treinar a mente para viver no presente é semelhante a treinar um músculo, requer prática consistente e gentil. Uma das formas mais simples de começar é através da atenção consciente à respiração. Não precisas de dedicar horas à meditação formal (embora isso possa ser útil); basta que, várias vezes ao dia, faças uma pausa para notar três respirações completas. Sente o ar a entrar pelas narinas, o peito e a barriga a expandirem-se, e depois a contração suave ao expirar. Três respirações, não leva mais do que 20 segundos, mas nesse breve momento, estás a ancorar-te no presente. Outra prática poderosa é o que os budistas chamam de "dot moments" ou momentos-ponto, micromomentos de atenção plena espalhados pelo teu dia. Quando tocas numa maçaneta, sente realmente o metal frio contra a tua pele. Quando alguém te fala, observa não só as palavras, mas também o tom de voz, as expressões faciais. Quando esperas num semáforo, em vez de pegares logo no telemóvel, observa simplesmente os teus arredores, as cores, as formas, os sons. Estas práticas simples são como pequenas âncoras que, repetidas muitas vezes, começam gradualmente a trazer-te de volta ao aqui e agora.
Uma das descobertas mais libertadoras que fazemos quando praticamos a presença é que muitos dos nossos problemas existem apenas nas nossas mentes, nas histórias que construímos sobre o passado ou nas projeções que fazemos sobre o futuro. Se observares atentamente, perceberás que no momento presente, neste exato instante, geralmente está tudo bem. O corpo funciona, o ar entra e sai dos pulmões, há uma certa paz subjacente que está sempre disponível quando nos libertamos do peso da narrativa mental. Isto não significa ignorar problemas reais ou responsabilidades futuras; significa simplesmente reconhecer que a maior parte do nosso sofrimento vem não dos eventos em si, mas da resistência a eles, das expectativas frustradas, dos desejos não satisfeitos. É neste espaço entre o que queremos que aconteça e o que realmente está a acontecer que surge o sofrimento. A presença permite-nos habitar esse espaço com mais graça, aceitando o que não podemos mudar e agindo claramente sobre o que podemos. Como escreveu Eckhart Tolle: "O poder está sempre no momento presente. Só existe uma coisa importante: estar consciente do agora."
Viver mais plenamente no presente transforma não apenas a tua experiência interior, mas também as tuas relações. Pensa nas pessoas mais importantes da tua vida, quanto do tempo que passas com elas estás verdadeiramente presente? Quando escutas realmente, sem formulares a tua resposta enquanto a outra pessoa ainda está a falar, algo mágico acontece na comunicação. As pessoas sentem-se vistas, compreendidas, valorizadas. Os conflitos diminuem porque muitos deles nascem de mal-entendidos e de reações automáticas baseadas em padrões antigos. A intimidade aprofunda-se porque estás a relacionar-te com a pessoa real à tua frente, não com a tua projeção mental sobre ela. E talvez o mais importante: começamos a apreciar as pessoas enquanto as temos nas nossas vidas, sem adiar o amor ou a gratidão para um futuro idealizado. Cada interação torna-se uma oportunidade para conexão autêntica, e a qualidade da tua presença torna-se um dos maiores presentes que podes oferecer a quem amas.
No final, a paz que procuramos não é algo que tenhamos de criar ou alcançar. É o nosso estado natural quando nos libertamos das camadas de ruído mental, preocupação e distração que acumulamos. Pensa nisso como o céu azul que está sempre presente, mesmo quando as nuvens o encobrem temporariamente. A tua consciência, o teu ser mais profundo, já é pacífico por natureza. A prática da presença é simplesmente o processo de dissipar as nuvens, de recordar quem realmente somos para além das nossas histórias e preocupações passageiras. E a beleza disto é que está sempre disponível, em qualquer momento, independentemente das circunstâncias externas. Num mundo que te puxa constantemente para o passado ou para o futuro, para a distração ou para o piloto automático, escolher voltar ao momento presente é um ato revolucionário. É um voto de confiança na vida tal como ela se desenrola, e uma afirmação da tua capacidade de estar plenamente vivo, aqui e agora. Como alguém disse sabiamente: "O passado é história, o futuro é mistério, mas o presente é uma dádiva. Por isso, se chama presente."
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